A massificação das manifestações populares que ocorreram no
Brasil, especialmente, a partir de Junho deste ano, foi um fenômeno social
surpreendente. De repente uma enxurrada de gente toma as ruas, ávidos por novos/velhos
paradigmas: honestidade, democracia, justiça social. Milhões de pessoas, espalhados por todo o Brasil,
quase simultaneamente, exigiam que seus direitos constitucionais fossem
respeitados. Uma verdadeira aula de
cidadania e democracia.
A escola brasileira, em geral, se auto-proclama uma defensora
de valores democráticos e promotora da cidadania. Mas, como dizia Paulo Freire, “é necessário
que nossas falas sejam corporificadas pelo exemplo”, ou seja, que nossas
práticas não sejam negadoras daquilo que defendemos.
Dentro de uma escola, quase diariamente, ouve-se a queixa dos
insatisfeitos. Muitas são as reclamações
porque muitas são as razões. Observando
as conversas no interior de muitas escolas, constatamos que entre o discurso
favorável e o exercício efetivo da cidadania há uma longa distância.
A democracia precisa de
cidadãos ativos, informados e responsáveis para assumir o seu papel na
comunidade e contribuir para o processo político. Perante a diversidade e
complexidade das sociedades do nosso tempo o discurso não é
suficiente para formar o cidadão.
A escola pode ser a grande mediadora do
conhecimento necessário à comunidade, para que ela possa construir realidades
mais humanas para viver. Como afirma Paulo Freire, o conhecimento não é neutro. Ele possui uma função social. Na perspectiva emancipadora, ele deve contribuir
para compreender mais criticamente a realidade vivida, para, assim,
compreendendo-a mais profundamente, termos condições de agir sobre ela,
transformando-a para melhor. Nesse sentido, o ponto de partida do processo de
construção de conhecimento será a prática social concreta e a realidade onde
ela acontece.
Podemos e devemos fazer da escola
esse espaço da promoção e da vivência dos valores da liberdade, da justiça, da
solidariedade, da cooperação, da tolerância e da paz. Criar, influenciar,
compartilhar e consolidar mentalidades, costumes, atitudes, hábitos e
comportamentos que respeitem o direito à vida. Propiciar aos educandos o
desenvolvimento da capacidade de perceber as consequências pessoais e sociais
de suas escolhas. Construir o senso de responsabilidade. Tornar o cidadão
participante, crítico, responsável e comprometido com a mudança das práticas e
condições da sociedade que violam ou negam os direitos humanos é fundamental
para um país democrático e justo.
A participação é uma construção
histórica e social. Exige aprendizado continuado. A escola não pode se furtar
de criar condições para aprender a fazer. Essas práticas não estão consolidadas
entre nós. Nossa história de participação e democracia é muito recente. “Ninguém vive plenamente a
democracia nem tampouco a ajuda a crescer, primeiro se é interditado no seu
direito de falar, de ter voz, de fazer o seu discurso crítico; segundo, se não
se engaja, de uma ou de outra forma,na briga em defesa deste direito,que no
fundo, é o direito também a atuar.”- Paulo Freire,1997.
Principalmente, neste momento de
inflamação social, torna-se necessário acentuar uma educação que combata
eficientemente a alienação, não por discursos e retóricas, mas por exemplos
concretos de combatividade. Precisamos cada vez mais de professores
verdadeiramente comprometidos, agentes sociais engajados na luta pela conquista
da própria cidadania, capazes de disseminar idéias e conceitos. Pois em uma sociedade tão desigual, injusta,
onde os representantes do povo enganam aqueles que os elegeram, roubam os cofres
do Estado, o que resta para as gerações futuras é a esperança de que esses
cidadãos compromissados com a educação, com a exigência da justiça e do direito
ao exercício da cidadania cumpram com seu dever e sigam firmes em seus
propósitos de construir uma sociedade melhor, onde as oportunidades sejam
iguais para todos, onde todos tenham acesso à educação de qualidade, a saúde, a
alimentação digna, ao lazer, a alegria, a segurança, a paz.
Michel
Pinto, é professor da Rede Estadual e do Município de Petrópolis.
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