MANIFESTO DA EDUCAÇÃO:


Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão. Paulo Freire

sábado, 12 de junho de 2010

Veremos nossa Petrópolis parar?


A atual situação em relação à educação e saúde de Petrópolis, me fez lembrar, como educadora, mãe de aluno de escola pública, petropolitana, mas principalmente como cidadã, em composições de dois brasileiros que tão bem já representaram através de suas ideias, questionamentos sobre o nosso cotidiano. Raul Seixas havia pensado sobre o dia em que o sistema para por não haver mais razões ao seu caminhar, e Paulo Freire descreveu a escola como ela realmente é.
 
Acompanhando as questões dos servidores como dos representantes do governo municipal, que justificam suas atitudes perante a movimentação de greve, não venho defender nenhum dos dois, mas coloco-me a pensar sobre a fragilidade na qual estamos inseridos vivendo globalizados mas enfrentando já há mais de 10 dias as mudanças ocorridas por conta do que se chama cidadania.
 
Todos nós, cidadãos, apreendemos na escola os conceitos necessários sobre relações de espécies e como seres humanos, animais racionais, que somos, entendemos através dos nossos professores, que num sistema, um depende do outro e na hora em que um falta, o outro é prejudicado.
 
Por isso, reflito sobre o dia em que Petrópolis parou, pode vir a parar ou vai mesmo parar.
 
A cidade teria feito parte de um dos sonhos de Raul Seixas e Cláudio Roberto, em 1977, quando escreveram a música “O dia em que a terra parou”?:
 
“Essa noite eu tive um sonho de sonhador/ Maluco que sou, eu sonhei com o dia em que a terra parou/ O aluno não saiu para estudar./ Pois, sabia, o professor também não tava lá.
E o professor não saiu para lecionar/ Pois sabia que não tinha mais nada para ensinar”.
 
Em relação à educação: quantas pessoas não estão saindo? Principalmente as crianças, não estão saindo da frente da televisão, ou de suas camas, ou de suas casas, pois estão sabendo que não tem porque ir. Ir pra onde? Ir pra escola que serve para muitos como porto seguro contra as questões difíceis do dia-a-dia, está sendo em Petrópolis, uma atividade difícil. Pessoas envolvidas que caminham junto ao calendário escolar, também estão parando, como o caso de comerciantes do trajeto escola-casa continuam saindo mas os produtos que vendem não saem com a mesma intensidade sem o movimento das crianças; além também dos motoristas de transporte escolar, que rodam mas não tem a mesma rotina; e assim, todos...
 
Mas, o que mais interessa nesse momento é como na música em que o “sonhador” disse que o professor não tinha mais nada para ensinar. As crianças estão dispostas a estudar, pois a escola é a referencia, mas o que se ensina? Ensinar sobre direitos e deveres a uma criança que vê a sua merenda na escola sendo preparada pelo profissional que tem como obrigação trabalhar o tempo que lhe foi determinado em contrato mas que recebe por isso menos do que lhe garante a lei como direito? O que ensinar na escola? Ensinamos, como educadores, as nossas crianças que elas devem respeitar o outro, tratando-lhe com educação e tendo atitudes que considerem as suas questões como válidas, mas na hora em que é necessário ouvir há o exemplo de omissão e total descomprometimento com as causas que incluem pessoas, suas famílias e todos que direta ou indiretamente estão envolvidos no salário recebido no fim de cada mês.
 
Em relação a saúde, para onde ir? / “E o paciente não saiu pra se tratar / pois sabia que o doutor também não tava lá. E o doutor não saiu pra medicar / Pois sabia que não tinha mais doença pra curar”.
 
Sair e ir sem ter como certeza de que se chegar ao posto de pronto socorro terá como direito garantido o atendimento que lhe é necessário. É assim que se ensina: mesmo que as crianças petropolitanas não estejam em horário escolar, a vivencia é aquela que mais ensina, cidadãos não estão vendo o direito de seus afins garantidos. Um afim que também pode ser o doutor que deveria estar curando as doenças mas que não saiu porque não se sente motivado a deslocar sua energia desenvolvendo trabalho em cima dos conhecimentos que construiu em sala de aula com os professores responsáveis por essa função. E todos somos envolvidos. 

Onde a cidade vai parar?  Quais são nossos direitos e deveres?
 
Temos o direito de manifestação das nossas ideias desde que elas não desrespeitem o espaço do outro, mas temos o dever de respeitar o nosso espaço e ver nossos direitos garantidos para que possamos viver com dignidade ensinando aos nossos dependentes, que só podem ser as crianças, aqueles que estarão em épocas futuras exercendo suas atividades com os exemplos que estão vendo agora, como se vive a cidadania.
 
Mas qual é o direito de uma criança e qual é o dever de uma escola? A escola como instituição tem seus deveres que devem ser exercidos desde que aqueles que lhe conduzem tenham os seus direitos garantidos e assim, muito bem escreveu Paulo Freire: “A Escola é... o lugar onde se faz amigos. Não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos ... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, o coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem amizade a ninguém; nada de ser como o tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se “amarrar nela”! Ora, é lógico... numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz.”
 
Sendo assim: educar-se na escola! Obter conhecimento na escola! Crescer na escola! Ser formado na verdadeira cidadania. O que será que Paulo Freire estaria pensando num momento desse na cidade de Petrópolis? E o que estão nossas crianças pensando? Raul Seixas terminou a música cantando que no dia em que a terra parou, ele acordou, não sonhou... Que acordamos todos ao pensar, antes que a nossa cidade pare, o que é ser aluno, o que é ser escola, o que é ser educador, o que é ser representante, o que é ser principalmente Cidadão. 

Gabriela P. B. Fernandes
Professora

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