MANIFESTO DA EDUCAÇÃO:


Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão. Paulo Freire

terça-feira, 1 de junho de 2010

Não seja professor!



Tenho visto em vários blogs voltados à educação, uma preocupação crescente desses educadores com uma pesquisa que foi realizada há pouco sobre a intenção profissional dos alunos que estão no Ensino Médio.
A pesquisa saiu na revista Nova Escola. Os resultados mostram que apenas 2% desses alunos “pensam” em ser professores e que seguiriam a profissão apenas para poder ingressar em nível superior, pois a disputa é menor do que em outros cursos. Não culpo esses jovens por pensarem assim. Aliás, se pudesse ser ouvido por eles diria: Não sejam professores!

Pense comigo: se uma criança cresce ouvindo os próprios professores reclamando de  salários baixos, do trabalho que levam pra casa e da falta de valorização que temos em relação a outras profissões, o que a levaria ao desejo de ser professor? Como são sábios os nossos jovens! Não sejam professores!
Mais um motivo para não ser professor: você passou boa parte da sua infância e adolescência em uma sala de aula com mais 30 colegas; o professor se descabelando em frente à turma para conseguir atenção a fim de explicar a conteúdo. No fim do turno, os pais de seus colegas (e o seu também) estão esperando seus filhos dentro de seus carros em frente à escola. Alguns são médicos, outros engenheiros, arquitetos, gerentes de banco, etc. Você entra no carro do seu pai. Em seguida, vê seus professores caminhando com um monte de livros em direção ao ponto de ônibus. Pense antes de responder. Seja sincero! Você pensaria em ser professor? Acho que não. Não seja professor!
Outra situação: você está bem sentado em sua carteira/classe, pensando na vida, a explicação do professor parece um sussuro longínquo, pois você não vê a hora de chegar em casa, atirar os livros num canto qualquer e sentar na frente do seu playstation. De repente, acorda do devaneio com uma gritaria que vem da sala ao lado. É um (a) colega insultando a professora. Em seguida ouve-se gritos, algazarra nos corredores e a professora sai amparada da sala de aula com o rosto sangrando. É o assunto da semana. A professora é ameaçada pelos pais do agressor e se depara com a falta de apoio da escola. Vê sua práxis pedagógica sendo questionada e, provavelmente, usada como desculpa pelo momento de insanidade da aluna. Você pensaria em ser professor? Eu não!!! Deus me livre! Educar é uma tarefa que exige cumplicidade entre família e escola, mas isso não acontece em nosso país. Não seja professor!

Leia mais sobre o assunto:

Engenheiros e arquitetos constroem edifícios, escolas, pontes, rodovias, hospitais…Ainda que se veja notícias de muitas pontes e prédios que caem, eles não são crucificados.
Professores constroem as pontes entre o aluno e o saber que permanece como uma companhia firme pelos caminhos da vida.
Médicos salvam vidas mas, não raras vezes, temos notícia de que cometem erros fatais. Ainda assim, não são crucificados e desvalorizados.
Professores, não somente “salvam” vidas como as orientam para que sejam plenas, livres e com conhecimento suficiente para que sigam o caminho desejado.

Nesse ponto, proponho uma pausa para a reflexão. Pare de ler um pouco, pense e responda: por que, então, somos tão desvalorizados?
Nossa sociedade é como um filho ingrato. Fazemos de tudo por ela. Damos o melhor de nós e não recebemos nada em troca. Não que se espere uma recompensa por exercer uma atividade pela qual somos “remunerados”. Queremos apenas respeito e uma vida mais digna, de acordo com a importância do nosso ofício.

Essa mesma sociedade que nos desdenha foi construída pela nossa classe, já que o conhecimento é a base de uma sociedade desenvolvida. Qualquer profissional tem que adquirir conhecimentos para exercer suas atividades. Concordam? E eles constroem esse conhecimento sozinhos? A resposta é um sonoro NÃO. Todos eles passam pelas “mãos” de professores.
Ainda assim, nossa profissão não é vista como uma parte importante da sociedade. Por que, então, entregam a educação/formação de seus filhos sob nossa tutela? Isso é um paradoxo. 

Insisto em reforçar meu ponto de vista sobre o pensamento dos adolescentes da pesquisa sobre o magistério. O instinto de sobrevivência os leva a tomar essa decisão.

É preciso paixão para seguir o caminho pedregoso da docência e é essa paixão que transforma essas pedras/dificuldades/desafios no edifício do Saber. Porém, não se vive apenas de paixão. Precisamos pagar as contas. Precisamos de conforto e de uma vida sem sobressaltos. Todos precisam. Que tipo profissional seriam esses 2% de jovens que particparam da pesquisa? É preciso paixão para educar! O sacrifício é exigido diariamente, ano após ano. Não precisamos de mais docentes insatisfeitos.

Presenciar a evolução de uma criança, ser o elo entre eles e o conhecimento, auxiliar nesse desenvolvimento é a nossa maior recompensa. Você que é jovem, pense bem se está disposto a enfrentar as dificuldades dessa carreira. Se os motivos citados durante esse texto o deixaram assustados, siga meu conselho: Não seja professor!
 E você, tem paixão?

Um comentário:

  1. ....CURIOSIDADE, Será que o nosso prefeito teve professor(a)? Qual será a opinião deles a respeito do Prefeito e de tudo isto que está acontecendo? Será que o SR. Prefeito está interesado em ser PROFESSOR com este salário atual?

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